6 de mar. de 2010

Horticultor cria jardim "ecologicamente correto"

Certa tarde quente de março, Felder Rushing, horticultor e apresentador do programa semanal americano sobre jardinagem The Gestalt Gardener, na rádio pública do Mississipi, estava acomodado em seu luxuriante jardim, em uma cadeira feita de pneus de bicicleta reciclados. Podia-se ouvir à distância o ruído de um cortador de grama em um jardim vizinho, um zumbido grave que interrompia o silêncio.

Rushing, vestindo jeans e uma camisa tropical, com o longo cabelo grisalho protegido por um chapéu, contemplou seu jardim sem grama, e abriu um sorriso. "Estou sentado ao sol como um velho lagarto gordo", ele disse, "enquanto eles suam, bufam e resmungam.

A mistura de arbustos e flores que Rushing plantou em lugar de um gramado tradicional é um exemplo da abordagem que ele designa "jardinagem lenta". O termo se inspira no movimento Slow Food, cujos adeptos acreditam em usar ingredientes locais, colhidos de maneira ecologicamente responsável. Rushing diz que não cunhou o termo, mas que "se apropriou" dele.

Palestrante muito procurado no circuito das sociedades de agricultura e um pregador muito eficiente de suas idéias, Rushing, 56, há muito advoga o uso mais intenso de plantas perenes e a aceitação de uma certa desordem, e costuma expressar uma rebelde afeição por ornamentos de jardim que muita gente poderia considerar bregas (flamingos cor de rosa, por exemplo). Sua mais recente campanha é a da jardinagem lenta.

Em termos simples, a doutrina dispõe que os jardineiros relaxem, trabalhem vagarosamente e acompanhem os ritmos sazonais, em lugar de fazer tudo de uma vez - um ímpeto que costuma prevalecer no início da primavera, quando as pessoas se sentem tentadas a correr para o jardim e plantar de maneira a afirmar que o inverno acabou, ocupando rapidamente o terreno vazio dos jardins e quintais.

"As pessoas tendem a iniciar projetos maiores do que podem concluir", disse Rushing. "Plantam 24 pés de tomate dos quais mal poderão cuidar". O certo, ele recomenda, é começar de maneira modesta, com um vaso ou dois. "Vá ampliando de acordo com aquilo que lhe for confortável, à medida que seu conhecimento cresce. Não comece com uma área grande nem saia arando como um fazendeiro".

Outro aspecto de sua filosofia é o de seguir os instintos, e não regras estabelecidas, diz.

"As pessoas dizem que é preciso podar as rosas em certo ângulo, acima de determinada folha", diz. "Afirmam que é preciso regar o gramado uma vez por semana".

"A verdade é que ninguém tem de fazer nada disso", diz. Rushing é especialmente crítico de pessoas que esperam pelo momento teoricamente correto em suas vidas para começar na jardinagem.

"Bem, a maioria das pessoas diz que quer ter um jardim quando envelhecer", ele questiona. "Por que não agora mesmo? Cultive alguma coisa em um vaso, para uso na cozinha. Não é tão difícil". Ele me lança um olhar acusador.

"Você não tem um jardim?", diz. "Vamos lá, plante alfaces em um vaso, cara".

Essa abordagem lenta atraiu muitos jardineiros, entre os quais Hilary Shughart, moradora de Oxford, Mississipi, e ouvinte regular do programa de Rushing. Ela disse que, na hora de transplantar mudas, costumava se precipitar e remover as plantas antes de cavar os novos buracos. Caso se cansasse, ou o tempo virasse, as plantas ficavam fora da terra por dias. "Não vou nem contar quantas vezes cometi esse erro", diz.

Joe Lamp'l, escritor e palestrante cujo tema é a jardinagem, diz que bem gostaria de ter praticado a jardinagem lenta, no passado. Lembra de ter plantado uma murta ao lado de sua casa em Mount Airy, Carolina do Norte, mesmo que soubesse que a planta cresceria demais para o lugar escolhido. "Queria que o jardim tivesse uma aparência bonita de imediato", diz, e justificou a decisão para si mesmo alegando que manteria a planta podada - o que, é claro, ele sempre estava ocupado demais para fazer.

Isso é "jardinagem rápida", diz Rushing. Basicamente, "é uma busca de gratificação instantânea", diz, mencionando como outro exemplo "ir comprar manjericão no armazém quando se pode cultivá-lo até na caçamba de uma picape". Rushing não menciona o exemplo de modo hipotético. Há um canteiro de manjerição plantado na caçamba de sua velha Ford F-150. Ele cuida de seu "jardim sobre rodas" como uma espécie de propaganda volante de suas idéias.

O principal jardim de Rushing, uma fantasia frondosa que obscurece sua casa pintada em tom lavanda e foi descrito negativamente, certa vez, por um avaliador de imóveis, como "muito cheio de arbustos", reflete a filosofia do crescimento lento que ele defende. Há legumes e verduras em vasos, e não no chão, porque isso facilita a manutenção (não é preciso se curvar tanto, nem usar um arado), e propicia versatilidade (nem todo mundo tem terra em que plantar). E embora ele e a mulher, Teryl, gostem de cultivar sua comida, não plantam batatas, porque é mais barato e eficiente comprá-las no varejo.

"Não me importo com o que está na moda, com o que todos preferem", disse Rushing, apontando para os gladíolos e outras plantas antiquadas em seu jardim. "Gosto de coisas fortes, confiáveis". Ele economiza dinheiro com fertilizantes porque usa compostagem, mas não adere às normas científicas dos livros sobre o assunto. "Tenho duas regras: não jogue nada fora, e empilhe tudo junto", ele diz.

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