18 de mar. de 2011

Aves da Mata Atlântica: megadiversidade em perigo

O ornitólogo e diretor do Museu de Zoologia da USP, Luís Fábio Silveira, fala sobre as aves da Mata Atlântica e de como protegê-la

Qual o número estimado de espécies de aves conhecidas na Mata Atlântica?
Ainda não foi encontrado um número concreto. A variação vai de 800 a 1200 espécies. Isso acontece por não termos uma definição exata dos limites desse bioma. Alguns pesquisadores levam em consideração áreas que para outros não fazem parte da Mata Atlântica. Mesmo tendo como base o menor valor, temos um número significativo, já que existem 1.832 espécies catalogadas em todo país.






Quantas espécies podem desaparecer no curto prazo?
É um paradoxo. Até hoje não foi comprovado nenhum caso de extinção de aves na Mata Atlântica. O que acontece é um processo de declínio. Porém duas teorias podem definir o destino dos animais desse bioma. A primeira diz que pode haver uma evolução contínua dos pássaros – onde se adaptarão a restrição de espaço e variação de clima. E a segunda – vai por um viés mais radical – fala que começamos a viver um período de extinção em massa.

É possível frear essa perda?
Sim, mas a longo prazo. Para reduzir esses danos é preciso usar mecanismos de recomposição florestal, com a criação de corredores ecológicos, introduções de espécies e revigoramento de populações. Essas medidas funcionam, mas não em 10 anos, talvez em 50 ou mais. Por isso é preciso começar hoje.

Existem projetos de recuperação florestal previstos para finalização em 2020. Esse é um prazo ilusório?
As pessoas querem resultados imediatos. Mas se começarem amanhã, nessa é data é possível que exista uma capoeira, que não terá uma grande diversidade de aves, principalmente. Quando se começa a fazer o plantio, muitas mudas vão morrer, outras vão ser atacadas por formigas, por exemplo. É necessário ter um processo de política contínuo. Tem que ser uma diretriz de governo e não promessa de apenas uma campanha.

Com qual freqüência se encontra uma espécie nova?
É muito raro. O grupo das aves é o mais estudado entre os animais. Descobrir uma espécie de roedor é trivial, assim como insetos e peixes. Encontrar uma ave nova é um acontecimento, considerando o que já foi feito até hoje. A possibilidade de encontrar algo novo é cada dia menor.
 



Qual o panorama de pesquisa da área?

Existem pesquisadores, mas não são suficientes para a quantidade de material disponível. Mesmo assim, ainda descobrimos espécies. O que mais acontece são os novos arranjos taxonômicos. Às vezes existem espécies com quatro ou cinco subespécies e quando estudadas a fundo, é constatado que, na verdade, eram espécies diferentes.

A atividade de birdwatching contribui de alguma forma para a conservação da biodiversidade?
Contribui muito. É importante ter birdwatchers andando nas unidades de conservação. Além de ficarem atentos a qualquer tipo de modificação do ambiente, também inibem o tráfico de animais e outras atividades ilegais. Eles servem como vigias da natureza.
 
Essa é uma prática a ser incentivada?

Com certeza. É uma atividade que te deixa sempre em contato com a natureza. Em minha opinião é mais saudável que uma caminhada. Como birdwatcher a pessoa tem uma relação mais próxima com a natureza e aguça mais os sentidos. É preciso ter um bom campo visual e saber distinguir sons.
 


Qual o impacto do crescimento das grandes capitais?
Analisar uma lista vermelha de espécies é o resultado de como nós nos relacionamos com o meio ambiente. Há uma devastação de mais de 500 anos sobre a Mata Atlântica. O que temos que fazer é lidar com o prejuízo que já foi causado.


fonte:  Planeta Sustentável

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